Ontem estava pensando, quer dizer pensando não lembrando,
daquela época da juventude, vindo de família rica, eu chegava à cidade de
Gentily, depois de viajar quilômetros. Minha família não era pobre pelo
contrario tinha adquirido com o tempo muitas riquezas com suas fabricas entre
outras coisas, se bem que nunca me importei muito com isso tudo, sempre fui
jogado ao vento, eu era a verdadeira decepção da família de chefes de fabricas
e doutores da lei. Sempre muito amado por meu pai e ignorado por minha mãe que
só tinha olhos para sua filha mais nova, não que isso me atingisse de certa
forma... Na verdade era até um alivio, pois ela não pegava no meu pé, mas isso
por que não entendia muitas coisas e tinha medo de admitir.
Minha vida era muito boa. Tinha tudo que eu queria e quando
queria, era bem querido por muitos e também odiado por outros, se bem que eu
sempre soube que só me amavam por causa da minha carteira, enfim vamos direto
ao assunto, pois pelo que sei já enrolei de mais. Quando acabara de entrar na
faculdade sempre íamos quando chegava o termino das aulas para a cantina que de
lado do campus era o centro de encontro de todos os amigos, era o lugar mais
movimentado da época e lá enchíamos a cara e vivíamos a badernar, essas
reuniões eram rotina para todos ali que mesmo passando tanto tempo juntos
sempre tinham coisas para contar. Aos fins de semana sempre viajávamos para o
litoral, onde nós divertíamos e fazíamos mil e uma coisas, não faltava nada.
Grupo de rapazes e mossas ricos brincando se divertindo e aprontando, todo fim
de semana era meio que uma intimação fazer isto. E por assim dizer não poderia
ser diferente naquela semana, meio do mês de abril. Foi quando uma noticia
terrível chega aos meus ouvidos. Meu pai morrera em uma supervisão de uma das
fabricas triturado por uma das maquinas. Essa foi uma das noticias mais tristes
que eu já tive, da data lembro até hoje, de como minha mãe com o rosto inchado
e de olhos e nariz vermelhos de tanto chora veio me dá à trágica noticia e da
forma como reagi, largando os livros que carregava no chão e deitado em meio a
soluços gritava o chamando de volta, era uma segunda feira à noite. Na terça eu
estava inconsolável não queria saber de nada nem ninguém, procurava a todo instante
ficar só e chorar.
Assim se passou os dias e
então chega o fim de semana. Muitos amigos tentando me alegrar, tentando me
convencer de ir se distrair na praia, mas naquele momento comigo não tinha
acordo algum, só queria está só, cheguei até a ser grosso com eles, mas não que
fosse minha intenção eu estava muito transtornado e eles me entenderam. Ali
estava eu naquela cidade pacata, um rapaz de 21 anos caminhando só a chorar,
propenso a fazer bobagens, mil e uma besteiras passando pela mente, não agüentava
mais aquilo tudo, toda aquela pressão tristeza e desolação consumiam minha
mente, naquele momento a única coisa que eu pensava era na morte, perguntava a
Deus a todo instante o porquê daquilo tudo e uma única resposta vinha à mente,
a morte.
Aquela seria minha ultima sexta feira, dia 15 de abril
de 1932 duas e meio da tarde. Ali em meio a várias pessoas estava eu com a
cabeça cheia de merda indo até a ponte mais próxima. Foi quando eu te vi,
passando de óculos e vestido longo, uma verdadeira Afrodite em plena França,
aquela tarde de tristeza e dor acabara naquele momento, caminhei até um
chafariz e lá sentei, fiquei a olhar disfarçadamente você lendo seu livro. Pego
o meu caderno e finjo escrever e por incrível que pareça te observar naquela
cafeteria sentada me fez esquecer de todo o meu problema, tua pele tão sensível
e clara contrastava com seus longos cabelos negro como o céu de uma noite sem
luar, teus olhos tão atentos ficavam se no tal livro como se o consumisse com a
alma, particularmente eu não me atreveria a interromper tal cena. Então após
alguns minutos, trinta ou quarenta não lembro você se levanta e sai caminhando
e eu ali parado continuo te olhando. No outro dia voltei ao mesmo local e
novamente estava lá como uma princesa novamente com o seu livro. E durante uma
semana essa alegria se repetiu até chegar o dia 24 de abril, me lembro como se
fosse ontem, nesse dia foi quando tomei coragem e fui até você, me levantei do
chafariz, estufei o peito como um galo pronto para brigar e fui caminhando até
você, porém eu não tinha visto a perna daquela mesa que estava em meu caminho e
me fez cair como uma jaca podre no chão, quando te olho alguém se aproxima. Era
um homem. Neste momento me levanto com a roupa melada de suflê e suco de
laranja e vou até minha casa, desolado. A noite se tornou um mês e a felicidade
apenas um sonho.
Na segunda-feira chego à escola pela manhã para poder
estudar a final chegara o tempo de avaliações e tinham certos professores que
não gostavam muito de mim e de fato eu teria de me esforçar mesmo tendo tanta
coisa na cabeça teria de passar e garantir minha vitória em tal provação. A
biblioteca sempre era um lugar solitário e eu não costumava frequentá-la, na
verdade aquela foi a primeira vez que fui até lá, enfim, geralmente essa hora
eu estava com meus amigos na cafeteria, mas naquele dia fiquei ali naquele
local silencioso parado e empoeirado metendo a cara nos livros, isso ocorreu
durante horas, mas estava tão entretido que não percebi o passar do tempo e
quando me dei por si já estava escurecendo, então peguei o livro e fui até a
bibliotecária para tentar levar os livros para terminar em casa, assim que me
viro uns três livros empilhados no chão me fazem tropeçar e cair, aquilo estava
se tornando um costume, assim que abro meus olhos vejo alguém me ajudando a
pegar os livros que estavam em minhas mãos, eu agradeci e levantei o olhar para
a minha incrível surpresa era você, desta vez cara a cara comigo, foi à
primeira vez que vi teus olhos verdes esmeralda, na hora não sabia o que fazer
geralmente eu era bem desenrolado com as meninas com quem convivia, mas desta
vez me senti intimidado, o porquê eu não sei. Agradeci pela sua ajuda e você
com sua voz doce me respondeu. Por alguns minutos conversamos e por algumas vezes
rimos de minhas histórias bobas, mas logo depois nos despedimos e cada um
seguiu seu rumo ela no carro daquele homem e eu a pé na direção contrária. Dei
a sorte de todos os restos dos dias daquele mês poder te encontrar e toda às
vezes sorri como um garoto gordo ao ver um bolo de chocolate.
Aquela semana foi inesquecível conhecer você foi o
verdadeiro auge de minha vida, fomos notando coisas semelhantes entre nós e
descobri que aquele homem era apenas seu pai, isto me deixou feliz. Esse amor
foi crescendo dentro de mim foi crescendo e crescendo cada vez mais, você
também dizia que gostava de mim, então decidimos namorar e sonhar juntos, claro
que escondido, pois seus pais naquele momento nunca deixariam, até por que o
mundo estava em crise devido às sequelas que ainda se arrastava da crise de
1929, acumulando tudo trazia preocupação em proteger sua família, além disso,
sua única filha protegida com todas as forças. Começamos a namorar escondidos,
e foram os melhores três dias da minha vida, pois no dia 13 de maio numa sexta
feira, você foi viajar para Veneza na Itália para estudar. Fui ao porto ver sua
partida, mesmo sendo um pouco longe, mas não importava teria de te vê pelo
menos mais uma vez ante de sua partida. Assistir a ida de seus olhos para longe
de mim foi o maior castigo que já tive. Meu pranto poderia ser ouvido de fora
do porto, mas não poderia ser movido nem por todas as tropas alemãs. Vi então
seu braço e seus belos cabelos na beira do navio, segundos me restavam para te
ver, foi quando eu te vi por completa e com lenço na mão acenava para mim. E
enquanto implorava sua volta você olhou para mim diretamente e me disse “Te
amo!” e logo em seguida soltou o lenço. O vento o soprava para longe de mim,
porém eu não deixaria a única coisa que você me deixaria ir assim como nada.
Pulei no mar gelado e nadando como nunca, ao pegar o lenço volto até a
superfície do porto, e vejo o navio se afastando mais e mais e você indo embora
para nunca mais. Sai daquele porto arrastado, por um amigo. Parecia que tinham
me apunhalado mil vezes no peito, ah como doía.
No dia seguinte não podia nem me levantar da cama, minha
fraqueza era tamanha, mas mesmo assim fui à escola e ao chegar lá fiquei
sabendo da terrível tragédia que ocorrera, o navio que zarpara com a minha
amada havia afundado a 270 quilômetros da costa Francesa. Fiquei meses de luto
e todo ano lembrava aquele 26 de abril o momento em que te conheci. E hoje dia
26 de Abril de 1985 estou aqui no mesmo porto, e te mostrar minha querida
Jasmyne que mesmo com tantos anos nunca te esqueci, e nem irei te esquecer. Sei
que esta carta numa simples garrafa não vai mostrar o quanto, mas neste momento
te devolvo o presente que há tanto tempo me entregaste com tanto afeto e
amor...
E agora posso te responder... Eu também te amo.
Assinado Victor.
Autor: Eduardo Machadooo :P
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