Benito era um jovem e
promissor ajudante de florista das ruas de Andaluzia, Servilla na Espanha.
Vivia suas manhãs calmas organizando tudo que seu chefe Carlos mandava ambos
eram ótimos um para o outro e viviam em harmonia e paz com suas rosas. Benito
costumava assim quando largava às quatro da tarde ir até o parque todos os dias
pra ficar observando as vidas que ao seu redor passavam sem nem mesmo o notar. Divertia-se
com um saco de pipocas, um caderno que na frente aparentava ser uma simples
revista de sudoku, caneta e óculos escuros. Sem nem uma maldade pequenas
risadas dava enquanto analisará as pessoas que por ali passavam e no fim da
tarde assim que o sol começara a se recolher ele se levantava do banco colocava
os óculos escuros no colarinho da camisa e caminhava até a lixeira jogando a folha
que escrevia anteriormente, e se dirigia a seu apartamento, onde morava
sozinho. O lugar não era tão grande, mas era o bastante para um solteiro viver.
Um local com pouco barulho, e com bastantes flores que costumava pegar para si e
admira-las ao raiar do sol.
A vida de Benito nem
sempre foi assim. Ele tinha sido casado logo após se formar em seu doutorado de
Sociologia e Filosofia na faculdade, com uma linda advogada chamada Jaqueline
que havia falecido há dois anos e quatro meses num terrível acidente de carro.
Eram muito felizes promissores em suas vidas e graças às obras do destino todos
os sonhos foram deixados ao fim. Logo após o acidente Benito se confinou em sua
casa e ficou seis meses sem sair da mesma, deixando emprego, amigos e família.
Vivia de água e leves refeições trazidas pela sua irmã mais nova, que o apoiava
o quanto pudesse, mas isso não era o bastante, nunca foi. Assim que terminou
seu período de luto, pela bela e jovem Jaqueline, ele desiste de sua vida de sociólogo,
pois tudo o lembrara sua amada. Assim que vende sua casa viaja para outra
cidade (Andaluzia) e reconstrói sua vida lá desta vez como florista. Mesmo
tentado se livrar das lembranças ele nota que as flores o faziam lembrar-se
dela, porém de uma maneira boa que o fazia ter forças para prosseguir em sua
tal jornada. Às vezes Benito ainda ia até a varanda de seu apartamento e
observava a lua e as estrelas tentando achá-la de alguma forma, porém todas as
noites se tornavam martírio para o próprio.
Todos os dias esta rotina se repetirá. E o
pobre rapaz ainda jovem tentava esquecer-se de tudo que tinha acontecido em sua
vida, com essa nova carreira. Um cheiro, a pintura na parede, o porta-retrato
no criado-mudo teimavam a trazer de volta, tais dolorosas lembranças. Quando
completou um ano depois da partida de Jaqueline Benito tentou encontros, porém
todos só exibiam cada vez mais sua solidão e unidade. Aparentemente ninguém o
completara. Muitas vezes pensou na morte sua vida não o pertencia mais, não
tinha nada que o impedisse além de seus pensamentos tão firmes quanto à
estrutura das rochas do mar. Esta era a vida do pobre rapaz. Benito Arriaga o
ajudante de florista.
Uma manhã de clara,
não muito diferente das outras de verão. Ele se levanta e cedo vai até a
varanda de seu apartamento, ainda cedo poucos carros passavam seu vizinho do
lado punhava às gaiolas com pássaros coloridos para fora sempre com um cigarro
na boca acena para o rapaz que sorri e responde com a mão direita. Entra e vai
até a sala, nota o quadro com sua bela iluminado pelo sol. Sua mão esquerda
passa pelos cabelos acanhados ruivos e depois pelo rosto até chegar ao banheiro,
lava o rosto e depois vai ao banho para ir ao seu trabalho. Depois de pronto se
direciona a “Floricultura Cartalan” do lado da praça onde passava seus últimos tempos
de seu dia. Chegando ao trabalho Carlos já havia aberto e estava pondo algumas
plantas para fora para assim divulgar seus produtos. Um bom dia caloroso dava
ao rapaz que dava um sorri grande, porém seco como resposta. Carlos percebia
que Benito sofria, mas não comentava nada com medo de causar alguma piora.
Aquela manhã se torna bem tranqüila com alguns poucos
clientes como de costume desinformados e indecisos, coisa que acontecia freqüentemente
naquele local. Ao chegar o horário de almoço e descanso Benito recebe o convite
de Carlos para comer algo na lanchonete da esquina, que claro é rejeitado.
Assim ficara Benito à frente da floricultura ouvindo um rádio que tocava uma
musica melancólica, ele ouvia a cantá-la com calmas e baixas palavras. Quando
do lado uma cena que quebrava a rotina do mesmo. Uma bela mulher com uma bolsa
no braço direito o celular apoiado pelo ombro no ouvido, e uma pasta e um livro
na mão esquerda que corria querendo apanhar um taxi, parecia apressada. Então o
rapaz levanta-se e faz a gentileza de parar o taxi para mesma que o encara de
uma forma diferente e Benito retribui com um largo sorriso que se propunha em
seu rosto. Com uma voz doce, serena e atrapalhada ela agradece enquanto entra
no carro e se vai. Benito sorrindo com um novo olhar. Caminha até o meio-fio da
calçada e só nesse momento nota um livro caído no chão da pista, ele o pega e
percebe que é o mesmo que a moça carregava. Porém já era tarde o carro já
estava longe, então ele o guarda e começa a ler ao voltar para frente da
floricultura.
No fim de seu turno,
caminhava em direção ao parque como era de costume, mas desta vez não levava um
caderno, mas o livro que lia com tanta vontade. Ao voltar para casa pela
primeira vez em anos não sentia aquela tamanha tristeza. Com as roupas que chega
se deita na cama e com o livro na barriga dorme. Ao acordar de um sonho um
tanto estranho de lugares e pessoas que nunca vira ele vai novamente até a
varanda como de costume. Mas neste dia não tem vizinho, ele entra e com um banho
rápido e um copo de café que nem acaba se retira ao trabalho. No caminho ele
imaginava tentando descobrir se aquela mulher poderia aparecer novamente para
que ele pudesse devolver o livro, seus pensamentos são interrompidos por um
carro que fura um sinal e bate no outro, não houve ferido, mas o chamou atenção
por alguns segundos, mas logo toma seus pensamentos e segue seu destino. Seu
trabalho é de vento em poupa, e o dia inteiro ele saia da floricultura na esperança
de ver a moça, entre tanto ela não aparece. Uma, duas semanas se passam e ele
levando o livro consigo imaginando o retorno da mesma. Quando numa quarta-feira
ele esquece o livro em cima da mesa da sala de seu apartamento, já sem motivos
ou desejos de levar vai pra mais um dia de trabalho com suas flores. Ao chegar lá
o dia se passa tranqüilo. Ao fim do dia Carlos pede para que Benito fosse até
ao shopping local para que ele descanse um pouco, pois parecia bastante tenso
mais que o normal. Benito tenta rejeitar, mas a insistência de seu amigo é
maior, então o mesmo vai, mas sem vontade. Assim que sai da floricultura não
olha pra frente e acaba esbarrando em alguém. Era aquela moça que o chamara
atenção, os dois conversaram por alguns segundos e saem em direção ao café mais
próximo. Entendem-se bem e marcam de se encontrar. Então pela primeira vez em
anos o jovem se dava bem verdadeiramente com alguém. Dão seu primeiro beijo ao
cair de uma leve chuva numa tarde ensolarada. Uma bela paixão surge desta
união.
Quando numa tarde
Benito pede para Carlos deixá-lo largar mais cedo, pois queria fazer uma
surpresa para sua mais nova paixão. Com um buquê de lírios e rosas em mãos e um
bilhete vai até o trabalho da mesma. Ao chegar à esquina do edifício onde sua
paixão trabalhava se choca ao ver uma cena não tão agradável. Sua bela estava
de abraços e beijos com outro. O mundo aparentava parar naquele momento. Ela
por sua vez assim que nota Benito do outro lado da rua olha séria e uma lagrima
cai de seu rosto ao ver cair o buquê no chão e ele virar as costas e atravessar
a rua na direção contraria da mesma ao mesmo tempo em que um caminhão de
flores. O corpo desfalecido do mesmo não era só mais um fétido cadáver, mas o
fim de uma vida trágica e decepcionante. Ao ver o corpo jogado no chão a mulher
se desespera e vai até o mesmo tentar o trazer de volta o mesmo, com tentativas
falhas. Assim que percebe a morte do mesmo ela se afasta alguns metros e um
vento forte joga a seus pés o bilhete que o mesmo trazia em mãos. Ela o abre e
começa a ler.
“Querida, hoje me acordei e lembrei-me das tristezas que a
tanto me assombram, me lembrei do sofrimento e solidão que a tanto me perseguem
que a tanto me consomem e por fim me lembrei da verdade da felicidade e do amor
que me dignam a levantar. Poderia proferir milhões de palavras pra te falar que
meu coração já é teu, poderia inventar suposições e te provar que posso e quero
te fazer feliz, poderia te prometer todo ouro da terra e até minha vida, mas eu
prefiro te dizer uma coisa só uma...
Eu te amo!
Benito”
As lagrimas que
ensoparam aquele papel, não podiam trazer de volta aquele, que tanto tentou
lutar, que tanto tentou mudar, que tanto tentou amar. Aquelas simples e falsas
lagrimas não puderam voltar, o fim de mais um romântico no asfalto a sangrar.
Autor: Eduardo Machadooo :P
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